terça-feira, 16 de junho de 2009





Antes de começar a falar sobre a atividade conversacional e de seus elementos que o integram, gostaria de ilustrar com uma crônica de Carlos Drummond de Andrade chamado “Diálogo de todo dia” que se refere ao processo desencadeado pela conversa.

Diálogo de todo dia

__ Alô, quem fala?
__Ninguém. Quem fala é você quem está perguntando quem fala.
__Mas eu preciso saber com quem estou falando.
__E eu preciso saber antes a quem estou respondendo.
__Assim não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?
__ Todo mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.
__Isso eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é quem está no aparelho.
__Ah, sim. No aparelho não está ninguém.
__Como não está, se você está me respondendo?
__Eu estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.
__Engraçadinho. Então quem está ao aparelho?
__Agora melhorou. Estou eu, para servi-lo.
__Não parece. Se fosse para me servir, já teria dito quem está falando.
__Bem, nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece o outro.
__Se eu conhecesse não estava perguntando.
__Você é muito perguntador. Note que eu não lhe perguntei nada.
__Nem tinha que perguntar. Pois se fui eu que telefonei.
__ Não perguntei e não vou perguntar. Pois se fui eu que telefonei.
__Não perguntei e não vou perguntar. Não estou interessado em conhecer outras pessoas.
__Mas podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.
__Pela última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?
__Pela última vez, e em nome da segurança, por que sou obrigado a dar esta informação a um desconhecido?
__Bolas!
__Bolas, digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não está aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por todas: com quem deseja falar?
Silêncio.
__Vamos, diga: com quem deseja falar?
__Desculpe, a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Tchau.


O prof° Ivan no dia 12/05/09 passou uma atividade em dupla para que nós respondêssemos as questões referentes a oralidade e escrita como forma de lermos o texto e, segundo essas respostas e as discussões sobre o assunto, eu fiz algumas reflexões que serão descritas a seguir.
E, tomando a crônica como exemplo e o texto “Oralidade e escrita perspectivas para o ensino de língua materna de Leonor Lopes Fávero, Maria Lúcia C. V. O. Andrade e Zilda G. O. Aquino”, a atividade conversacional ocorre com a presença de pelo menos duas pessoas onde há um assunto em comum entre ambos. Ela acontece de forma organizada onde a uma sincronia de idéias, e não de forma aleatória, para que ambas as partes entendam o assunto e assim, aja uma interação. A atividade conversacional tanto pode ser baseada em perguntas e respostas (par adjacente) como também de digressões, onde há um desvio do assunto da conversa, e ela envolve vários aspectos do cotidiano da pessoa como a sua cultura, pensamento, etc. No ato da conversa também a coesão e a coerência devem ser um dos elementos para que o diálogo flua de forma satisfatória e compreensiva. Além disso, existem três elementos fundamentais que caracterizam a atividade conversacional que são: a realização (produção), interação e organização (ordem), ou seja, primeiro existe o processo constante de realizar conjuntamente com a interação e, a partir da interação é que há a transformação ou a construção de diversas possibilidades até finalmente chegar numa produção de texto organizado, que é a conclusão de todo o processo do discurso conversacional.
Dentro da atividade conversacional, existem variáveis que são descrito segundo Ventola como tópico e assunto, que consistem num canal de relacionamento na qual é de suma importância para o desenvolvimento social e de interação entre os sujeitos. O segundo é o tipo de situação, pois é de acordo com cada ambiente ou situação que se estabelece uma conversação entre os indivíduos abrangendo atividades verbais e não-verbais. O terceiro são os papéis dos participantes pois de acordo com cada ambiente é que podemos nos comportar quanto ao lugar ou meio que nos encontramos, e isso é um fator fundamental porque interfere diretamente no papel que iremos assumir. O quarto é o modo do discurso onde pode ser distinguido em que meio social pede-se uma conversa informal ou um local onde pede-se um posicionamento formal. E, por último, é o meio que vai se utilizar para transmitir uma mensagem podendo ser de diversas formas como oral, por telefone, num diálogo etc.
Para se identificar um texto falado, ele possui algumas características como: a interação entre pelo menos dois falantes, ou seja, para o início de uma conversação é necessária a presença de no mínimo dois indivíduos; ocorrência de pelo menos uma troca de falantes, isto é, na conversação acontece uma troca de experiências que pode ser com diferentes pessoas; presença de uma seqüência de ações coordenadas que são sucessões de acontecimentos que decorrem durante um diálogo; execução num determinado tempo, que pode variar entre um tempo curto ou tempo longo; envolvimento numa interação centrada que acontece quando duas pessoas estão conversando, elas passam a ter um envolvimento na medida que o diálogo avança ou prossegue.
Também é importante saber em que nível a fala se estrutura, pois existe o nível local que se caracteriza pela conversação entre dois ou mais componentes onde se respeita o momento de cada um de se pronunciar estabelecendo uma interação que enquanto um fala, o(s) outro(s) pode(m) concordar, discordar, acrescentar etc. E o nível global que se caracteriza concomitante a organização local, vale ressaltar que durante a conversa o assunto pode tomar diferentes rumos havendo digressões mas, ao ser percebido esse desvio de conversa, a pessoa retoma ao assunto principal, conclui-se então, que a conversa deve ser feita de forma em que o assunto principal não perca o seu foco e continue de maneira organizada até alcançar o seu desfecho.
O texto escrito para ser coerente precisa ser um texto com recurso coesivo que pode ser uma coesão referencial que pode ser caracterizada pelo excessivo uso da repetição para expressar uma idéia ou situação que serve para tornar o texto de melhor compreensão. A coesão recorrencial pode ser entendida como o uso da paráfrase, que é a substituição de uma palavra sem assim, alterar o seu sentido original. Serve par exemplificar melhor o sentido do termo utilizado e a coesão seqüencial que é usado [a] para dar prosseguimento ou continuidade de uma determinada idéia através do uso de conectores.
É importante mencionar sobre os quatro elementos que estruturam o texto falado que são o turno que pode ser especificado como a relação entre dois ou mais interlocutores que enquanto se comunicam, podem exercer dois papéis que é o de falante e o de ouvinte, que se alternam entre expressões curtas e informações no diálogo. Durante o turno ocorrem vários fatores descritos por Sacks, Scheglof & Jefferson onde cada um tem a sua vez de se expressar; onde a troca de falantes pode acontecer durante o diálogo; pode acontecer que mais de uma pessoa fale ao mesmo tempo, mas isso ocorre ocasionalmente, e não, sempre; a conversa pode acontecer sem interrupções, se interligando entre si; não há um número específico de ocasiões para que o turno aconteça, tampouco o seu tamanho e extensão; a conversa acontece de forma livre sem obedecer a regras pré-determinadas; o turno pode ser dividido de forma flexível; não há restrições quanto ao número de participantes no diálogo; a fala acontece de maneira interligada ou não; os turnos ocorrem segundo as técnicas de atribuição; diversas classes de palavras são utilizadas para constituir uma conversação; e, por último, podem ser feitas várias objeções afim de “consertar” alguma falha no decorrer da conversa.
O tópico discursivo que é determinado pela variedade de assuntos que podem ser abordados mesmo se esses assuntos não estiverem correlacionados. Possuem as seguintes propriedades como centração que é manter o foco no assunto principal, é através desse assunto que irá desencadear outros tópicos referentes ao assunto principal. A organicidade que é dividida em seqüencial (distribuição linear ou horizontal) e hierárquica (distribuição vertical), ou seja, elas obedecem a uma determinada ordem. E, delimitação local onde há o início de uma conversa, há o meio e o fim dela onde há a presença de variadas expressões para marcar bem estas devidas etapas.
Os marcadores conversacionais que são entendidos como todo o termo incluído numa conversa seja expressões curtas ou longas, informações, interjeições etc. Eles são divididos em quatro grupos sendo o 1° marcador simples onde é representada por apenas uma palavra podendo pertencer a qualquer classe gramatical; o 2° é marcador composto é definido como um conjunto de palavras que se complementam para dar um sentido maior na fala; o 3° é o marcador oracional é representado pela introdução de pequenas orações que podem exprimir dúvidas, certezas, emoções e etc; e o 4° é marcador prosódico onde é levada em consideração a emoção seja através do silêncio, seja através do tom da voz e etc.
E, por último, o par adjacente que corresponde a cada pergunta – resposta, onde são desenvolvidos inumeráveis assuntos que podem se relacionar, ou mudadas dependendo dos tópicos. Eles são divididos em:

a) Introdução de tópicos onde a pergunta é o primeiro passo para o início de uma conversação;
b) Continuidade de tópico é a relação que tem entre a pergunta e resposta para se estabelecer um entendimento sobre o assunto da conversa que pode ser uma explicação de alguma informação por exemplo.
c) Redirecionamento do tópico é quando se faz necessário interferir no meio da conversação para voltar ao assunto principal através de uma pergunta.
d) Mudança de tópico ocorre quando uma conversa está saturada referente ao seu assunto, sendo necessário introduzir outro tipo de assunto para que a conversa dê prosseguimento.

Através dessa atividade pude perceber a importância que tem o professor em saber esses conceitos sobre a oralidade para que haja uma comunicação entre o professor e o aluno e, além disso, através desse instrumento, possa descobrir as deficiências e as potencialidades do aluno pois o fundamental é que todos que estão na sala de aula alcancem o conhecimento e não, apenas um grupo seleto. Por isso que saber se expressar e se comunicar é importante para que as informações não sofram os desvios e se percam sem antes trazer um resultado no cotidiano escolar.
No início dessa atividade encontrei dificuldades, pois achei o texto complexo, mas achei importante conhecer os conceitos que regem a língua oral e escrita para que na sala de aula haja um entendimento entre ambas as partes e assim, possam construir coletivamente o conhecimento paulatinamente.

Um comentário:

  1. Ana, o texto ficou muito bom! Parabéns! A organização das respostas contribuiu para que fosse realizada uma síntese do texto.

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